sexta-feira, 29 de julho de 2011

Episódio 5 - Sangue Inocente, Vinganças Juradas.

O silêncio da noite era tão perceptível como a grande lua quase cheia que reinava no céu; era como se além de Krurg e Lyza, todo o ambiente houvesse tomado voto de silêncio para ouvir Felícia narrando a história de Urbenalis, enquanto Auros e Will repousavam; apenas ouviam-se os estalos da madeira semi-seca na fogueira...
- “Há alguns anos Urbenalis ainda era uma cidade mista, Herdeiros, humanos, anões, e outras raças viviam em perfeita ‘harmonia’ naquela cidade. Não havia nenhuma discriminação se você tivesse escamas sobre o corpo, uma longa cauda ou se você se transformava durante a lua cheia, era uma cidade como outra qualquer até a chegada de um bárbaro, foi em uma noite chuvosa, ele havia chegado à taberna da cidade, bebeu tulipas e mais tulipas de cerveja e cálices de hidromel, não demonstrou uma mínima tontura. Madrugada adentro ele ficou entornando bebidas. O dia virou, o sol brotou no horizonte, o dono da taberna disse que precisava fechar o estabelecimento para descanso, ele se recusou; o proprietário era um herdeiro do touro, era alto e extremamente forte, tinha pequenos chifres na cabeça e usava uma argola dourada no nariz como adorno. Pois bem, o bárbaro levantou-se nervoso e desafiou o herdeiro para um duelo, dizia que seria tudo ou nada, e que sua raiva aumentava seu apetite de sangue; como nunca perdera uma luta para um humano o desafio foi aceito. Eram sete da manhã quando os dois se encaravam na rua principal da cidade, o sol começava a banhar fracamente o chão feito de paralelepípedos levemente esverdeados quando os dois começaram a lutar, a vantagem era do taberneiro, como era de se esperar, e quem parava para assistir já estava crente que ele colocaria o bárbaro para fora da cidade. Foi então que tudo mudou quando o bárbaro ergueu o cidadão e o lançou longe. Certo, era um bárbaro, força bruta é sua sina, mas as mães correram com seus filhos no colo e os homens da cidade se prepararam para um perigo desconhecido. O bárbaro via-se em fúria, seus olhos indicavam a cegueira do ódio, e a face do horror, ele uivou, um longo uivo grotesco e sombrio ecoou na cidade, quando o uivo acabou, ele estava terminando de se transformar; uma criatura era horrenda, ou melhor, uma aberração. Um grande lobo de dois metros de altura, com membros visivelmente mais fortes, dentes e garras afiadíssimas, andava em duas patas curvado para frente, possuía placas saindo do meio de sua pelagem cinza escura. Covardemente ele agarrou o taberneiro pelas costas enquanto se levantava, rasgou-o com suas garras brutalmente, aqueles que se aproximaram sofreram a conseqüência de sua fúria, ao longe foram jogados ou perfurados até a morte com garras ou dentes, a guarda da cidade se juntou e por meio de ameaças e avanços fizeram com que a aberração se retirasse da cidade, mas isso custou a vida do chefe da guarda quando o lobo quebrou uma de suas placas pontiagudas e a lançou contra os oficiais... Ele jurou então voltar na lua cheia e executar a chacina em todo morador deste local, e para que ninguém esquecesse; ele gravou com suas próprias garras na placa de entrada da cidade as seguintes palavras: ‘Lua cheia Crawler lobo aberrante volta’. Desde então, os guerreiros mais fortes da cidade montam acampamento em torno dela; já se passaram 5 luas cheias sem sinal dele, mas eu e Auros ainda não desistiremos, pois o chefe da guarda, que foi morto na tentativa de defender a cidade... Era nosso pai... “– Uma lágrima desceu o rosto de Felícia após a última frase.
A herdeira senta-se ao chão e fica a remexer as brasas com um pedaço de madeira e um olhar melancólico. Lyza vira e revira páginas de seu livro, até quebrar o silêncio
-Bem, não tem muito aqui sobre lobos aberrantes... Mas são licantropos como qualquer outros... err... sem ofensa aos presentes... foram criados em cultos malignos em forma de sacrifício, porém a experiência saiu errada e a raça se desenvolverá, são violentos e vingativos... e... e... e mais nada, é o que tenho.
-Ótimo temos uma lua cheia amanhã e tudo que sabemos é que estamos à mercê de um “lulú” sanguinário de dois metros de altura. To vendo que vou ter que fazer da maneira antiga mesmo... – Resmungou Krurg.
-Não é necessário! – Auros sai de sua barraca, agora com sua forma humana – Amanhã é lua cheia, licantropos estão no auge de sua força, eu sou um deles, eu vou matá-lo de igual para igual, e vingar o sangue inocente derramado nesta cidade.
-Sozinho? E o que o bichano pensa que vai fazer? Você acaba de tomar um sopapo do andarilho ali que ta dormindo ali na barraca.
-Amanhã não ficarei na forma híbrida, me transformarei por completo, o rei das selvas reinará em seu território. ele saberá o que é um licantropo de Urbenalis...
-Mas ele não matou vários da ultima vez?
-Aí que você se engana grande esverdeado, sabe-se lá porque ele só atacou herdeiros naquela manhã... eu serei o primeiro e o último licantropo que Crawler vai enfrentar no chão desta cidade.
Via-se o ódio e a sede de vingança no tom de voz de Auros. Krurg apenas concordou com a cabeça, não era o melhor momento para contrariá-lo. E assim passaram o resto da noite, em frente ao crepitar da fogueira, trocando informações, táticas, conhecimentos, enfim se conhecendo e formando uma aliança.
A manhã veio e trouxe com ela as gotas de orvalho sobre as barracas e o apagar das brasas. Todos estavam se levantando quando uma sonora inspiração de ar toma conta do acampamento, Lyza está em frente à barraca onde Will estava, semi desmontada, ainda com a capa, e a mochila dele dentro; a espada havia sido levada. Onde estará Will?

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