quarta-feira, 27 de julho de 2011

Episódio 4 - Feras, Fatos e Surpresas

A lua estava forte a brilhar, os três heróis caminhavam por entre as clareiras iluminadas por seu brilho, estavam a um dia da lua cheia, Lyza andava carregando um livro aberto em uma mão, que lera desde uma hora depois da partida, Krurg caminhava em passadas lentas, porém mais do que suficientes para acompanhar lateralmente Lyza, e Will, caminhava à frente de ambos, com um jeito estranho de se portar, olhava para os lados da clareira com desconfiança, fazia movimentos bruscos com o pescoço, o estralava a todo o momento, assim como mãos, ombros e dedos, parecia incomodado, virou-se bruscamente para Krurg que questionou-o.
-Isso é medo, raiva, ou só pisou em um formigueiro e não consegue se livrar dos insetos?
-Nem um nem outro, só não me sinto muito disposto. – Respondeu friamente
-Posso preparar algum chá, ou poção, ago que cure isso se quiser, - ofereceu-se Lyza - sou nova, mas tenho amplo conhecimento em...
-Não precisa, eu estou bem, só um pouco estranho, vamos seguir em frente, talvez cheguemos a  Urbenalis  logo, em um ou dois dias.
Eles prosseguiram, em um silêncio peculiar, de repente, um barulho foi ouvido entre os arbustos, eles pararam, o som os rodeava,  Lyza olhava para todos os lados desnorteada, Krurg pegou umas de suas enormes boleadeiras e a manteve em punho, pronto para lançar, porém não moveu um músculo de suas pernas nem um passo a frente, nem atrás, e Will girava em torno dele mesmo seguindo o som dos arbustos, desceu uma mão na bainha e a outra na base da espada, pronto pra sacá-la. A clareira era aberta, a lua clara, eram alvos visivelmente fáceis, porem preparados.
-Não é apenas um... – disse Will, sacando a espada, deixando-a tinir no ar.
Krurg começou a girar a boleadeira fazendo o som no ar cortado pela velocidade, Lyza estava com um olhar de medo, mas em uma prova para ela mesma ela conjura uma pequena bola de fogo e a deixa tremular ao ar, a poucos centímetros de sua mão. O clima é de tensão, as criaturas ocultas na penumbra da vegetação começam a correr em círculos, a respiração ofegante e preocupada do grupo pode ser claramente ouvida, um dos sons para, o outro continua correndo, dois grandes olhos refletindo a luz da lua aparecem na penumbra, intimidantes, Will os encara profundamente e começa a caminhar em sua direção, o som dos passos ritmados da outra criatura parecem estar mais próximos do trolóide e da jovem feiticeira, Will continua caminhando encarando bravamente o olhar amedrontador apesar de Lyza estar gritando para que não fosse.
O silêncio tomou as rédeas da situação, o ataque começa. Uma criatura aparentemente humanóide salta para cima do trolóide, ele lança a boleadeira mas a criatura é rápida demais, se esquiva e o golpeia com as patas traseiras no peitoral de Krurg que cai a chão levantando grande poeira, pegando o impulso do impacto a criatura sobe ao alto novamente caindo para cima de Lyza, ela lança a pequena bola de fogo que carrega mas com leveza e agilidade (até mesmo uma certa “graça”) a criatura rebate o projétil ao chão onde estoura iluminando a clareira em tom alaranjado. Luz essa que quebra a intimidação de Will com a segunda criatura, então, revela-se uma grande cabeça leonina abrindo sua boca  e partindo contra o sujeito, vindo da mata fechada, ambos avançam clareira adentro, Will sempre recuando mediante as mordidas da criatura, Porém, seu estilo de lutar está diferente do Krurg e Lyza haviam assistido contra o troll atroz, estava mais rápido, não estava usando a espada para se defender, tanto que em um movimento rápido guardou-a na bainha novamente, empurrou o monstro felino para trás e urrou o seguinte “grito de guerra”:
-Agora é fera contra fera!
Como um animal selvagem ele partiu para cima do outro leão que agora se via ter um corpo humano, a cada investida, Will desviava da tentativa de morder que o animal dava, o socava, e continuava avançando; tamanha selvageria chamou a atenção de Lyza, Krurg, que estava segurando o primeiro atacante e o próprio, ou melhor, a própria, pois era uma moça, esbelta, com traços felinos como orelhas pontuda, uma cauda e olhos grandes e chamativos, além de pequenos dentes mais pontudos, visíveis desde que estava boquiaberta com a luta, assim como os demais. A animalidade parecia correr nas veias dos combatentes, entre grandes golpes e rodopios, o leão e Will lutavam de igual para igual, não se sabia dizer quem estava com a vantagem e quem em breve cairia.
Em um certo ponto, o grande felino errou uma mordida, mas arranhou o braço esquerdo do andarilho quando ele se esquivava, ele acerta a cabeça do animal novamente que cambaleia para trás; Will firma um dos joelhos no chão, segurando o braço, ao tirar a mão, vê sangue correndo por entre seus dedos, ele fica atônito por instantes, levanta-se com alguma dificuldade, está zonzo, fica imóvel olhando para sua mão enquanto o outro braço está solto, o leão salta de longe, com sua boca aberta, e garras para frente, é o golpe final, Lyza fecha os olhos, Krurg faz um impulso para tentar correr na direção do ataque, mas ele mesmo pára. O olhar de Will mudou novamente, de dor sua expressão torna-se obscura, séria, assim como no último confronto, ele para o bote do leonino somente com a mão direita segurando o focinho com apenas essa mão e empurrando-o para cima, sem o soltar ele pula, e com os dois pés dá um chute fenomenal na fera, que voa aproximadamente uns 3 metros para longe do humano, ela tenta se levantar, mas cai, vencida pelo cansaço; maleficamente Will começa a rir, umas risadas loucas, cortadas por um som de dor, ele toca o ferimento no braço novamente, vê sua mão ensangüentada, volta a rir, vai parando aos poucos e cai ao solo.
Cerca de meia hora depois, não muito longe do local da luta animalesca, estão sentados em torno de uma fogueira onde um javali está sendo assado, Krurg, Lyza e a mulher, Will e a outra fera foram postos em barracas logo após serem curados.
-Eu acho que temos uma longa conversa pela frente não é mesmo? – indagou Krurg.
-Bem, tecnicamente vocês invadiram nosso território de caça primeiro, mas que felina seria eu, se não lhes desse a honra de saber quem sou? Sou Felícia, Meio humana, meio Leoa, o grandão ali na outra barraca é Auros, agora ele já deve estar em forma humana novamente...
-Forma humana? – questionou Lyza espantada.
-Sim, Auros diferente de uma herdeira como eu, é um licantropo, ou seja, ele possui a forma mais humana, porém pode se transformar tanto em uma forma híbrida de nosso ascendente, o leão, que é o que vocês viram agora, como ser também o próprio animal completo, estávamos caçando para o acampamento, então vocês apareceram e enfim, aconteceu o que aconteceu, você, pelo que vejo é aprendiz de magia, e você verdão, a caveira no seu cinto, e as boleadeiras não negam sua profissão de caçador de recompensas... Agora, o guerreiro... Ele declinou do uso da espada, lutou com tamanha ferocidade, não foram muitos que encararam Auros assim, muito menos os que venceram... Quem é ele? Ou melhor, o que é ele?

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