sexta-feira, 29 de julho de 2011

Episódio 5 - Sangue Inocente, Vinganças Juradas.

O silêncio da noite era tão perceptível como a grande lua quase cheia que reinava no céu; era como se além de Krurg e Lyza, todo o ambiente houvesse tomado voto de silêncio para ouvir Felícia narrando a história de Urbenalis, enquanto Auros e Will repousavam; apenas ouviam-se os estalos da madeira semi-seca na fogueira...
- “Há alguns anos Urbenalis ainda era uma cidade mista, Herdeiros, humanos, anões, e outras raças viviam em perfeita ‘harmonia’ naquela cidade. Não havia nenhuma discriminação se você tivesse escamas sobre o corpo, uma longa cauda ou se você se transformava durante a lua cheia, era uma cidade como outra qualquer até a chegada de um bárbaro, foi em uma noite chuvosa, ele havia chegado à taberna da cidade, bebeu tulipas e mais tulipas de cerveja e cálices de hidromel, não demonstrou uma mínima tontura. Madrugada adentro ele ficou entornando bebidas. O dia virou, o sol brotou no horizonte, o dono da taberna disse que precisava fechar o estabelecimento para descanso, ele se recusou; o proprietário era um herdeiro do touro, era alto e extremamente forte, tinha pequenos chifres na cabeça e usava uma argola dourada no nariz como adorno. Pois bem, o bárbaro levantou-se nervoso e desafiou o herdeiro para um duelo, dizia que seria tudo ou nada, e que sua raiva aumentava seu apetite de sangue; como nunca perdera uma luta para um humano o desafio foi aceito. Eram sete da manhã quando os dois se encaravam na rua principal da cidade, o sol começava a banhar fracamente o chão feito de paralelepípedos levemente esverdeados quando os dois começaram a lutar, a vantagem era do taberneiro, como era de se esperar, e quem parava para assistir já estava crente que ele colocaria o bárbaro para fora da cidade. Foi então que tudo mudou quando o bárbaro ergueu o cidadão e o lançou longe. Certo, era um bárbaro, força bruta é sua sina, mas as mães correram com seus filhos no colo e os homens da cidade se prepararam para um perigo desconhecido. O bárbaro via-se em fúria, seus olhos indicavam a cegueira do ódio, e a face do horror, ele uivou, um longo uivo grotesco e sombrio ecoou na cidade, quando o uivo acabou, ele estava terminando de se transformar; uma criatura era horrenda, ou melhor, uma aberração. Um grande lobo de dois metros de altura, com membros visivelmente mais fortes, dentes e garras afiadíssimas, andava em duas patas curvado para frente, possuía placas saindo do meio de sua pelagem cinza escura. Covardemente ele agarrou o taberneiro pelas costas enquanto se levantava, rasgou-o com suas garras brutalmente, aqueles que se aproximaram sofreram a conseqüência de sua fúria, ao longe foram jogados ou perfurados até a morte com garras ou dentes, a guarda da cidade se juntou e por meio de ameaças e avanços fizeram com que a aberração se retirasse da cidade, mas isso custou a vida do chefe da guarda quando o lobo quebrou uma de suas placas pontiagudas e a lançou contra os oficiais... Ele jurou então voltar na lua cheia e executar a chacina em todo morador deste local, e para que ninguém esquecesse; ele gravou com suas próprias garras na placa de entrada da cidade as seguintes palavras: ‘Lua cheia Crawler lobo aberrante volta’. Desde então, os guerreiros mais fortes da cidade montam acampamento em torno dela; já se passaram 5 luas cheias sem sinal dele, mas eu e Auros ainda não desistiremos, pois o chefe da guarda, que foi morto na tentativa de defender a cidade... Era nosso pai... “– Uma lágrima desceu o rosto de Felícia após a última frase.
A herdeira senta-se ao chão e fica a remexer as brasas com um pedaço de madeira e um olhar melancólico. Lyza vira e revira páginas de seu livro, até quebrar o silêncio
-Bem, não tem muito aqui sobre lobos aberrantes... Mas são licantropos como qualquer outros... err... sem ofensa aos presentes... foram criados em cultos malignos em forma de sacrifício, porém a experiência saiu errada e a raça se desenvolverá, são violentos e vingativos... e... e... e mais nada, é o que tenho.
-Ótimo temos uma lua cheia amanhã e tudo que sabemos é que estamos à mercê de um “lulú” sanguinário de dois metros de altura. To vendo que vou ter que fazer da maneira antiga mesmo... – Resmungou Krurg.
-Não é necessário! – Auros sai de sua barraca, agora com sua forma humana – Amanhã é lua cheia, licantropos estão no auge de sua força, eu sou um deles, eu vou matá-lo de igual para igual, e vingar o sangue inocente derramado nesta cidade.
-Sozinho? E o que o bichano pensa que vai fazer? Você acaba de tomar um sopapo do andarilho ali que ta dormindo ali na barraca.
-Amanhã não ficarei na forma híbrida, me transformarei por completo, o rei das selvas reinará em seu território. ele saberá o que é um licantropo de Urbenalis...
-Mas ele não matou vários da ultima vez?
-Aí que você se engana grande esverdeado, sabe-se lá porque ele só atacou herdeiros naquela manhã... eu serei o primeiro e o último licantropo que Crawler vai enfrentar no chão desta cidade.
Via-se o ódio e a sede de vingança no tom de voz de Auros. Krurg apenas concordou com a cabeça, não era o melhor momento para contrariá-lo. E assim passaram o resto da noite, em frente ao crepitar da fogueira, trocando informações, táticas, conhecimentos, enfim se conhecendo e formando uma aliança.
A manhã veio e trouxe com ela as gotas de orvalho sobre as barracas e o apagar das brasas. Todos estavam se levantando quando uma sonora inspiração de ar toma conta do acampamento, Lyza está em frente à barraca onde Will estava, semi desmontada, ainda com a capa, e a mochila dele dentro; a espada havia sido levada. Onde estará Will?

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Episódio 4 - Feras, Fatos e Surpresas

A lua estava forte a brilhar, os três heróis caminhavam por entre as clareiras iluminadas por seu brilho, estavam a um dia da lua cheia, Lyza andava carregando um livro aberto em uma mão, que lera desde uma hora depois da partida, Krurg caminhava em passadas lentas, porém mais do que suficientes para acompanhar lateralmente Lyza, e Will, caminhava à frente de ambos, com um jeito estranho de se portar, olhava para os lados da clareira com desconfiança, fazia movimentos bruscos com o pescoço, o estralava a todo o momento, assim como mãos, ombros e dedos, parecia incomodado, virou-se bruscamente para Krurg que questionou-o.
-Isso é medo, raiva, ou só pisou em um formigueiro e não consegue se livrar dos insetos?
-Nem um nem outro, só não me sinto muito disposto. – Respondeu friamente
-Posso preparar algum chá, ou poção, ago que cure isso se quiser, - ofereceu-se Lyza - sou nova, mas tenho amplo conhecimento em...
-Não precisa, eu estou bem, só um pouco estranho, vamos seguir em frente, talvez cheguemos a  Urbenalis  logo, em um ou dois dias.
Eles prosseguiram, em um silêncio peculiar, de repente, um barulho foi ouvido entre os arbustos, eles pararam, o som os rodeava,  Lyza olhava para todos os lados desnorteada, Krurg pegou umas de suas enormes boleadeiras e a manteve em punho, pronto para lançar, porém não moveu um músculo de suas pernas nem um passo a frente, nem atrás, e Will girava em torno dele mesmo seguindo o som dos arbustos, desceu uma mão na bainha e a outra na base da espada, pronto pra sacá-la. A clareira era aberta, a lua clara, eram alvos visivelmente fáceis, porem preparados.
-Não é apenas um... – disse Will, sacando a espada, deixando-a tinir no ar.
Krurg começou a girar a boleadeira fazendo o som no ar cortado pela velocidade, Lyza estava com um olhar de medo, mas em uma prova para ela mesma ela conjura uma pequena bola de fogo e a deixa tremular ao ar, a poucos centímetros de sua mão. O clima é de tensão, as criaturas ocultas na penumbra da vegetação começam a correr em círculos, a respiração ofegante e preocupada do grupo pode ser claramente ouvida, um dos sons para, o outro continua correndo, dois grandes olhos refletindo a luz da lua aparecem na penumbra, intimidantes, Will os encara profundamente e começa a caminhar em sua direção, o som dos passos ritmados da outra criatura parecem estar mais próximos do trolóide e da jovem feiticeira, Will continua caminhando encarando bravamente o olhar amedrontador apesar de Lyza estar gritando para que não fosse.
O silêncio tomou as rédeas da situação, o ataque começa. Uma criatura aparentemente humanóide salta para cima do trolóide, ele lança a boleadeira mas a criatura é rápida demais, se esquiva e o golpeia com as patas traseiras no peitoral de Krurg que cai a chão levantando grande poeira, pegando o impulso do impacto a criatura sobe ao alto novamente caindo para cima de Lyza, ela lança a pequena bola de fogo que carrega mas com leveza e agilidade (até mesmo uma certa “graça”) a criatura rebate o projétil ao chão onde estoura iluminando a clareira em tom alaranjado. Luz essa que quebra a intimidação de Will com a segunda criatura, então, revela-se uma grande cabeça leonina abrindo sua boca  e partindo contra o sujeito, vindo da mata fechada, ambos avançam clareira adentro, Will sempre recuando mediante as mordidas da criatura, Porém, seu estilo de lutar está diferente do Krurg e Lyza haviam assistido contra o troll atroz, estava mais rápido, não estava usando a espada para se defender, tanto que em um movimento rápido guardou-a na bainha novamente, empurrou o monstro felino para trás e urrou o seguinte “grito de guerra”:
-Agora é fera contra fera!
Como um animal selvagem ele partiu para cima do outro leão que agora se via ter um corpo humano, a cada investida, Will desviava da tentativa de morder que o animal dava, o socava, e continuava avançando; tamanha selvageria chamou a atenção de Lyza, Krurg, que estava segurando o primeiro atacante e o próprio, ou melhor, a própria, pois era uma moça, esbelta, com traços felinos como orelhas pontuda, uma cauda e olhos grandes e chamativos, além de pequenos dentes mais pontudos, visíveis desde que estava boquiaberta com a luta, assim como os demais. A animalidade parecia correr nas veias dos combatentes, entre grandes golpes e rodopios, o leão e Will lutavam de igual para igual, não se sabia dizer quem estava com a vantagem e quem em breve cairia.
Em um certo ponto, o grande felino errou uma mordida, mas arranhou o braço esquerdo do andarilho quando ele se esquivava, ele acerta a cabeça do animal novamente que cambaleia para trás; Will firma um dos joelhos no chão, segurando o braço, ao tirar a mão, vê sangue correndo por entre seus dedos, ele fica atônito por instantes, levanta-se com alguma dificuldade, está zonzo, fica imóvel olhando para sua mão enquanto o outro braço está solto, o leão salta de longe, com sua boca aberta, e garras para frente, é o golpe final, Lyza fecha os olhos, Krurg faz um impulso para tentar correr na direção do ataque, mas ele mesmo pára. O olhar de Will mudou novamente, de dor sua expressão torna-se obscura, séria, assim como no último confronto, ele para o bote do leonino somente com a mão direita segurando o focinho com apenas essa mão e empurrando-o para cima, sem o soltar ele pula, e com os dois pés dá um chute fenomenal na fera, que voa aproximadamente uns 3 metros para longe do humano, ela tenta se levantar, mas cai, vencida pelo cansaço; maleficamente Will começa a rir, umas risadas loucas, cortadas por um som de dor, ele toca o ferimento no braço novamente, vê sua mão ensangüentada, volta a rir, vai parando aos poucos e cai ao solo.
Cerca de meia hora depois, não muito longe do local da luta animalesca, estão sentados em torno de uma fogueira onde um javali está sendo assado, Krurg, Lyza e a mulher, Will e a outra fera foram postos em barracas logo após serem curados.
-Eu acho que temos uma longa conversa pela frente não é mesmo? – indagou Krurg.
-Bem, tecnicamente vocês invadiram nosso território de caça primeiro, mas que felina seria eu, se não lhes desse a honra de saber quem sou? Sou Felícia, Meio humana, meio Leoa, o grandão ali na outra barraca é Auros, agora ele já deve estar em forma humana novamente...
-Forma humana? – questionou Lyza espantada.
-Sim, Auros diferente de uma herdeira como eu, é um licantropo, ou seja, ele possui a forma mais humana, porém pode se transformar tanto em uma forma híbrida de nosso ascendente, o leão, que é o que vocês viram agora, como ser também o próprio animal completo, estávamos caçando para o acampamento, então vocês apareceram e enfim, aconteceu o que aconteceu, você, pelo que vejo é aprendiz de magia, e você verdão, a caveira no seu cinto, e as boleadeiras não negam sua profissão de caçador de recompensas... Agora, o guerreiro... Ele declinou do uso da espada, lutou com tamanha ferocidade, não foram muitos que encararam Auros assim, muito menos os que venceram... Quem é ele? Ou melhor, o que é ele?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Episódio 3 - Combate & Piedade

- “GAIA PROTETORIUM!”  - gritou Will
Grãos de terra começaram a rodar em torno do andarilho, em poucos segundo se multiplicaram formando um morro de terra em torno dele, que se abaixa no grande furo no meio do pequeno morro.
O Troll atroz que corria cego de raiva tropeça  na protuberância no solo, e cai rolando metros a frente, ele se levanta, aparentemente atordoado,  seus olhos estão vermelhos como sangue fluindo de ódio; a queda o enfurecera. Will se levanta do buraco e Krurg aparace ao seu lado .
- Ótimo, temos uma besta de 4 metros de altura enfurecida e descontrolada sedenta por destruição, parabéns andarilho, agora deixe isso para um humanóide capaz de...
- Guarde sua espada grandão! – interrompeu Will – ao menos nesse caso não há necessidade de sangue.
-Tem noção do que essa coisa pode fazer?
-Nenhuma no momento...
Will guarda sua espada na bainha enquanto o trolóide o encara com uma face indignada. O Troll ruge mais uma vez e começar a se erguer e esmurrar o chão com força, fazendo os locais mais próximos tremerem. Krurg no desequilíbrio acaba por cair, ao se levantar e voltar seus olhos para Will ele sumira, já estava correndo em direção ao Troll.
-Pobre coitado, sem armas nem mesmo o mais habilidoso monge pode durar muito tempo lutando com as mãos nuas contra um Troll Atroz... – resmungou Krurg empunhando uma boleadeira na mão.
O andarilho correu com um olhar concentrado, o troll ergueu sua enorme mão e tentou acertá-lo, porém o humano foi mais rápido, pulou e rolou por baixo da perna do monstro, levantou-se e saltou, agarrando dois dos vários espinhos nas costas do troll atroz, a criatura sente que fora pega de surpresa, e começa a se movimentar para agarrar Will que por meio da força não se deixa cair ou ser pego. Krurg se prepara para lançar a boleadeira nas pernas da fera, num momento de descuido o andarilho é agarrado e imediatamente lançado com grande velocidade no trolóide. Os dois caem bruscamente após o choque.
- Sai de cima de mim e repita o movimento, agora vou acertar! – ordenou o trolóide.
- Falar é fácil não é mesmo? Vai lá e manda seu titio se acalmar! – retrucou ironicamente.
Via-se o começo de uma discussão quando o troll chega por trás de Will. Krurg por mais irritado que estivesse com o humano já pode ver a condolência em seus olhos vendo a morte de Will quando a fera atroz abre sua enorme boca e se enclina para morder Will.
O silêncio por um instante tomou conta da floresta. O trolóide ficou pasmo ao ver a cena, a face de Will mudou, estava sério, com as mãos para o alto segurando as duas presas inferiores enormes do troll atroz. Ele pulou, ainda segurando as presas, e rodou caindo na nuca da criatura, em meio a solavancos dessa grotesca montaria, ele retirou um saco de seu bolso, e despejou um pó prateado sobre a face do troll, que se debateu e aos poucos, reduzindo sua intensidade de força, cai ao solo, parece estar em sono profundo.
-O que aconteceu?
-Pó de asa-da-lua, feito com a asa da mariposa com escamas com propriedade sonífera, ele vai dormir por um bom tempo agora...
-Bem, é a hora certa, mas como você o derrubou, é seu direito matá-lo...
-Não haverá sangue hoje, já disse, seu orgulho foi ferido, quando acordar ele vai migrar. Enquanto isso, vamos pegar aquelas redes ali, a garota tremendo de medo atrás daquela pedra e voltar para o hotel, tem um refogado que quero para o jantar, e umas cartas pra pôr na mesa, eu, a garota e você trolóide.
-Eu declinaria, mas a fama do refogado de câncer de safira fala mais alto hehehe...

Horas depois no salão do hotel, Will, Krurg e Lyza estão sentados em uma mesa, cheia de pratos vazios, o silêncio, exceto, pelo sons dos talheres do trolóide terminando sua refeição, é quebrado por Will.
-Depois de amanhã vou partir para uma cidade ao norte. E estou procurando por uma equipe...

sábado, 16 de julho de 2011

Episódio 2 - O Acaso da Coincidência

Mata adentro Will avança por entre os galhos densos de uma vegetação bem verde, a floresta de Laguna segundo contam os livros é repleta de uma fauna e flora diversificada, entretanto; não se avista muitos animais pelo local, a não ser pelos insetos que fogem no chão aos passos de nosso andarilho e os mosquitos que tendem a rodear seu corpo.
Não se ouve muitos sons a não ser de mato sendo empurrado e os sons típicos de uma floresta diversificada, além do mais, em sua mente apenas ecoavam as instruções de Mark, o pescador:
Da última vez eu não vi muita coisa só corri muito, mas o Troll era enorme, eu estava no lago principal, onde jogo a rede para capturar os cânceres de safira, quando a água começou a ondular, uma sombra surgiu nas minhas costas e ele rugiu, travei de medo, não peguei nada só saí correndo, não sei dizer quantas árvores ele derrubou correndo atrás de mim, mas por ser menor eu consegui fugir... o lago fica no centro da floresta, é só rumar à nordeste e já encontrará o lago... boa sorte jovem...”
Ele avança lentamente, empurrando as folhas com as mãos, seus olhos se arregalam quando encontra uma grande clareira, na verdade mesmo, era os resultados de um timbre de destruição e medo,  por metros haviam árvores caídas e pegadas de pisadas fortes no chão, Will faz surgir seu olhar de indignação. Ele passa a caminhar por entre o rastro do que parecia ter sido uma caçada, certamente batia em detalhes com a pobre descrição do pescador, cujos olhos brilhavam de MEDO ao relembrar a sensação. Algo precisava ser feito.
Will estava analisando a ‘cena o crime’ quando um zumbido corta o ar e ele se vê caído ao chão enrolado por uma grossa corda. Fora atingido por uma boleadeira; e que boleadeira, era maior do que as convencionais usadas para se caçar animais de porte médio. Por meio de esforços este andarilho tenta se libertar, mas é difícil.
O rosto de esforço de Will muda quando uma sombra o tampa do sol, não se vê muita coisa até que um mão verde o puxa pelo pescoço. Face-a-face com o desconhecido, a criatura o olhava friamente, olhos quase brancos por inteiro, sua pele era de um verde pálido inumano, e a força que apertava o pescoço de Will era sobrehumana. O silêncio foi cortado:
- Ora, ora... o que nós temos aqui? Não lembro de ter rastreado um humano desde que cheguei... Bom não me importa, melhor me livrar de você antes de me livrar do meu alvo principal...         FLUSH!
Uma pequena bola de fogo atingiu a criatura humanóide na cabeça por trás, era Lyza, sabe-se lá de onde ela surgiu, provavelmente seguiu Will , estava assustada. Havia motivo, a sobrancelha da criatura se contorcera demonstrando a raiva e o andarilho acabara por tomar consciência do erro da garota, o humanóide desceu a mão a cintura sacando mais uma boleadeira, virou a cabeça para trás; Lyza se congelou de medo, o ser se prepara para lançar o aparato quando... “VIBRATA SÔNICA!” Will berra perante sua falta de ar, imediatamente a espada em sua bainha começa a vibrar, produzindo um som de metal se contorcendo cada vez mais alto em questão de segundos, era ensurdecedor, a criatura berra até não resistir e cai a terra com as mãos na cabeça, deixando Will escapar, numa tentativa de força ele arrebenta as cordas, e vê Lyza caindo ao chão também, foi demais para ambos. Pouco tempo depois a criatura acorda, Will está a frente de Lyza desmaiada no chão e com a espada em punho.
- Mas o que você pensa que estava fazendo?  – questionou a criatura
-Vibrata Sônica faz qualquer objeto fortemente ligado ao dono tremer gerando uma freqüência sônica ensurdecedora, exceto para o portador do objeto...
-eu to falando com ela seu babaca! Por que ela me atirou uma bola de fogo?
- ela está desmaiada seu... seu... afinal O QUE É VOCÊ ? não me parece o tal Troll que falaram...
- e não sou seu imbecil! Não sabe a diferença de um trolóide e um troll atroz?
- Ah tá explicado...
- Sou Krurg, caçador de recompensas e você pequenino, quem é?
-Will. Procuro pelo Troll que invadiu este local.
- Ele não invadiu, não é um troll comum nem um trolóide como eu, Trolls Atrozes são seres maiores e menos sociáveis, não há como argumentar com uma criatura dessas, e outros moradores da região me contrataram para arrancar-lhe a cabeça, por mais que me doa ferir um irmão de raça, e te digo uma coisa andarilho, fique fora do meu caminho e do troll, caso contrário, haverá mais de o sangue de uma criatura derramado nesta floresta hoje, e tire a bela adormecida daqui antes se machuque mais... – Krurg se vira e some perante a penumbra das árvores.

Will olha para Lyza e começa a andar, para, olha pra trás, volta, pega a garota, joga-a nas costas e carrega-a. Ele anda até chegar à margem de um enorme lago. A paisagem era demasiadamente linda, a clareira do lago fazia a superfície da água brilhar banhada à luz do sol, o andarilho solta a garota próxima a água e molha o rosto dela com água, ela acorda afogando.
- Coff coff, ai... que dooor de cabeeeçaaa... o que aconteceu?
- Por que me seguiu Lyza? Não sabe o perigo que corre aqui sua incompetente?
- Preciso de um dente de troll para uma poç... AAAAAAHHHH!
Logo atrás de Will aparece uma criatura enorme, aparentava  uns 3 metros e pouco de altura, andava curvado, era como Krurg, porém tinha espinhos nas costas, mãos enormes, e uma boca mais selvagem, o chão mais próximo tremeu com seus passos, Will se prepara para sacar a espada quando a criatura, num ato de reflexo o soca para dentro do lago, Lyza grita amedrontada com o animal, que ruge fortemente, o rapaz emerge na outra ponta do lago e corre para a cena onde a garota se rasteja para traz enquanto o troll enorme caminha para cima dela. Subitamente Krurg pula do alto de uma pedra e agarra o pescoço da fera ela se debate, ruge, e corre, ele consegue tirá-lo de perto da humana mas correndo para a direção de Will, que se prepara para um ataque, ele começa a correr na direção de ambos, o troll derruba  Krurg de suas costas que rola ao chão levantando enorme poeira, Will aparentemente está sozinho agora, lutando contra o monstro, eles correm um em direção ao outro quando Will crava sua espada no chão e grita...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Episódio 1 - Aquele Que a Areia Trouxe

Um dia, em um tempo presente de um mundo completamente diferente do que conhecemos, inicia-se uma história...
Aqui, vemos um jovem andarilho vindo do meio da poeira do deserto, rumo a cidade de Tropéria, que nada mais era do que um vilarejo para viajantes no meio da divisão entre o deserto da Garganta Seca e a floresta trópica de Laguna. Lá, a única atração principal desta cidade digna de um cenário de Far West, era o Hotel Central, onde a dona, feiticeira já velha e sarcástica cobrava altos preços por ser a única opção de hospedagem para não moradores de lá. Entretanto, há quem diga a hospitalidade e as refeições do hotel valem a pena pelo preço salgado.
Enfim, voltemos ao nosso andarilho, ele vêm caminhando aos poucos, seus pés afundando na areia fofa (típico de qualquer criatura que não esteja habituada ao terreno arenoso), seguido pelas nuvens de areia, ele se aproxima aos poucos adentrando o vilarejo, ele está de cabeça baixa, uma grande capa com capuz, provavelmente usada para se proteger da areia, o cobre quase totalmente, ele anda em passos regulares e a postura cansada. Os moradores o olham com certo desprezo e curiosidade, não são muitos os andarilhos sem montaria ou veículo que atravessam o deserto.
Ele segue sem se importar aos olhares e comentários do gênero “peregrino, com certeza” ou “sua montaria não resistiu pelo jeito...”. Ele entra no Hotel e é atendido pela feiticeira, ela olha-o de cima a  baixo e faz a típica face de desprezo “é mais um que vai ficar com o quarto no porão” – pensou.
O sujeito abre sua capa, e retira de seu bolso um grande rubi e o joga sobre o balcão questionando “o que eu consigo por um desses?”, a velha boquiaberta, toma o rubi em suas mãos e gagueja sobre a suíte do hotel por 3 dias e as refeições, ele aceita. E se vira para ir a escada, nisso a proprietária exclama  Mostre seu rosto apenas!”; ele pára, permanece estático por segundos, ergue suas mãos e desce o capuz que cai sobre sua mochila empoeirada e olha de perfil  para trás, onde em um momento a neta da feiticeira passa por de trás da avó, os olhares se trocam por momentos, ela derruba um livro em sua mão e abaixa-se para pegar, ao se voltar ele já está subindo a escada.
Algumas horas se passaram, ao cair da noite, o salão do hotel está aparentemente movimentado, é a hora em que se serve o jantar, o local toma uma ambientação mais luxuosa, independente de qual mesa seja. A feiticeira e sua neta servem as mesas, sendo auxiliadas por mesinhas com rodas que as seguem e desviam dos obstáculos sozinhas, obviamente, magia da feiticeira, já enfraquecida com o tempo e a falta de combate.
Lyza, assim era o nome da neta, ela buscava com o olhar o tempo todo a escada, como se aguardasse o andarilho descer, por vezes se atrapalhava um pouco com os pratos, o que tornava sua ansiedade visível em seus olhos. Enfim ele desce, trajando a mesma roupa com que chegara, porém sem a mochila e a grande capa, deixando visível que portava uma espada em uma bainha presa a cintura, e um pequeno saquinho preso ao mesmo cinto, entretanto, estava completamente limpo, seja de areia ou de poeira. Ele desceu, sentou-se em uma mesa onde foi ser paparicado pela proprietária que lhe mostrava o cardápio, ele escolhe atonitamente e pede por um conhecido prato feito com um crustáceo da região chamado “Câncer de Safira”, onde o crustáceo é preparado ao molho e tido sua própria carapaça como prato para o “refogado”; mas é negado seu pedido, “Por aqui os Cânceres de Safira só são encontrados no lago dentro da floresta próxima à outra ponta da cidade, mas tem um Troll por lá ultimamente pondo o pescador da cidade para correr ao se aproximar do lago...” explana a senhora até que subitamente o andarilho se levanta e saca sua espada fazendo-a tinir no ar, todos olham atônitos, ele não diz uma palavra sequer, corre por entre as mesas esbarrando em tudo e se atira contra a janela que se quebra em vários pedaços, nada faz sentido, ele rola pelo chão e terra como um doido até que perfura o solo com sua espada cravando-a firmemente, ao se levantar diz em tom alto, assistido por todos por entre a vidraça quebrada: “Apareça e serei compreensivo. Aos poucos a poeira vai abaixando e um adolescente está com a gola da camisa presa na espada com um rosto de temor tão grande que podia ser visto em seus olhos. “Desculpa, eu só queria ajudar minha família, meu pai não tem mais trabalho e... e...” ele é cortado pelo andarilho retirando a espada do chão, levantando-o deu-lhe um pequeno saco, disse-lhe algo que não se deu para escutar e o garoto saiu correndo, sumindo novamente, mas agora nas sombras da cidade. Ele apenas virou-se e retornou ao hotel para ter uma refeição, adentrando voltou-se para a feiticeira e disse com um sorriso sarcástico “Sobre a vidraça, coloque na minha conta...”, “Claro...” - foi sua resposta (sabendo que o rubi valia muito mais que 3 noites, refeições e a vidraça.)
Ao fim da noite, a salão estava quase vazio, o andarilho estava terminando sua refeição (e que refeição!) quando Lyza se aproximou da mesa, tirando o avental  e perguntou:
- Posso me sentar aqui um minuto?
- Claro. – respondeu o forasteiro
- Sobre o que aconteceu hoje, desculpe-nos, acho que já foi informado sobre a crise dos estoques de pescados da cidade, aquele era o filho do pescador, jovem feiticeiro ele só...
- Só queria ajudar a família, o jovem tem talento, eu disse para que não se repetisse o feito desta noite, dei lhe um saco de moedas de prata e o mandei para casa.
- Mesmo? Bem... muito legal de sua parte, a propósito eu sou Lyza, ajudo minha vó e sou estudante de magia e você seria...?
- Will, pelo menos é assim como me chamam... Sabe me informar qual é loja de suprimentos mais próxima?
- Do outro lado da rua, mas só abrem amanhã cedo...  er... o jantar estava bom? Você deveria provar o refogado de câncer de safira, talvez em outra oportunidade...
- Estava ótimo, vou me retirar agora, com licença...
Ele apenas se levanta e sobe escada acima.
 Na manhã seguinte ele acorda cedo e já está na loja de suprimentos, onde é surpreendido por um senhor magro de barba branca, atrás dele, o garoto e ele traz algo em suas mãos, é o saco de moedas que dera ao jovem na noite passada,
- Desculpe-me, mas acho que isto lhe pertence...
- Você deve ser o pescador certo?
- Sim, sou Mark, mil perdões pelo meu filho, isso não acontecerá mais, ele é bem intencionado porém não tem noção do que faz...
- Fique com as moedas Mark, creio que este seja o preço pela informação que desejo.
- Informação? Que informação?
O andarilho questionou com um sorriso nos lábios:
- Onde é o lago onde está o tal Troll?