quarta-feira, 13 de julho de 2011

Episódio 1 - Aquele Que a Areia Trouxe

Um dia, em um tempo presente de um mundo completamente diferente do que conhecemos, inicia-se uma história...
Aqui, vemos um jovem andarilho vindo do meio da poeira do deserto, rumo a cidade de Tropéria, que nada mais era do que um vilarejo para viajantes no meio da divisão entre o deserto da Garganta Seca e a floresta trópica de Laguna. Lá, a única atração principal desta cidade digna de um cenário de Far West, era o Hotel Central, onde a dona, feiticeira já velha e sarcástica cobrava altos preços por ser a única opção de hospedagem para não moradores de lá. Entretanto, há quem diga a hospitalidade e as refeições do hotel valem a pena pelo preço salgado.
Enfim, voltemos ao nosso andarilho, ele vêm caminhando aos poucos, seus pés afundando na areia fofa (típico de qualquer criatura que não esteja habituada ao terreno arenoso), seguido pelas nuvens de areia, ele se aproxima aos poucos adentrando o vilarejo, ele está de cabeça baixa, uma grande capa com capuz, provavelmente usada para se proteger da areia, o cobre quase totalmente, ele anda em passos regulares e a postura cansada. Os moradores o olham com certo desprezo e curiosidade, não são muitos os andarilhos sem montaria ou veículo que atravessam o deserto.
Ele segue sem se importar aos olhares e comentários do gênero “peregrino, com certeza” ou “sua montaria não resistiu pelo jeito...”. Ele entra no Hotel e é atendido pela feiticeira, ela olha-o de cima a  baixo e faz a típica face de desprezo “é mais um que vai ficar com o quarto no porão” – pensou.
O sujeito abre sua capa, e retira de seu bolso um grande rubi e o joga sobre o balcão questionando “o que eu consigo por um desses?”, a velha boquiaberta, toma o rubi em suas mãos e gagueja sobre a suíte do hotel por 3 dias e as refeições, ele aceita. E se vira para ir a escada, nisso a proprietária exclama  Mostre seu rosto apenas!”; ele pára, permanece estático por segundos, ergue suas mãos e desce o capuz que cai sobre sua mochila empoeirada e olha de perfil  para trás, onde em um momento a neta da feiticeira passa por de trás da avó, os olhares se trocam por momentos, ela derruba um livro em sua mão e abaixa-se para pegar, ao se voltar ele já está subindo a escada.
Algumas horas se passaram, ao cair da noite, o salão do hotel está aparentemente movimentado, é a hora em que se serve o jantar, o local toma uma ambientação mais luxuosa, independente de qual mesa seja. A feiticeira e sua neta servem as mesas, sendo auxiliadas por mesinhas com rodas que as seguem e desviam dos obstáculos sozinhas, obviamente, magia da feiticeira, já enfraquecida com o tempo e a falta de combate.
Lyza, assim era o nome da neta, ela buscava com o olhar o tempo todo a escada, como se aguardasse o andarilho descer, por vezes se atrapalhava um pouco com os pratos, o que tornava sua ansiedade visível em seus olhos. Enfim ele desce, trajando a mesma roupa com que chegara, porém sem a mochila e a grande capa, deixando visível que portava uma espada em uma bainha presa a cintura, e um pequeno saquinho preso ao mesmo cinto, entretanto, estava completamente limpo, seja de areia ou de poeira. Ele desceu, sentou-se em uma mesa onde foi ser paparicado pela proprietária que lhe mostrava o cardápio, ele escolhe atonitamente e pede por um conhecido prato feito com um crustáceo da região chamado “Câncer de Safira”, onde o crustáceo é preparado ao molho e tido sua própria carapaça como prato para o “refogado”; mas é negado seu pedido, “Por aqui os Cânceres de Safira só são encontrados no lago dentro da floresta próxima à outra ponta da cidade, mas tem um Troll por lá ultimamente pondo o pescador da cidade para correr ao se aproximar do lago...” explana a senhora até que subitamente o andarilho se levanta e saca sua espada fazendo-a tinir no ar, todos olham atônitos, ele não diz uma palavra sequer, corre por entre as mesas esbarrando em tudo e se atira contra a janela que se quebra em vários pedaços, nada faz sentido, ele rola pelo chão e terra como um doido até que perfura o solo com sua espada cravando-a firmemente, ao se levantar diz em tom alto, assistido por todos por entre a vidraça quebrada: “Apareça e serei compreensivo. Aos poucos a poeira vai abaixando e um adolescente está com a gola da camisa presa na espada com um rosto de temor tão grande que podia ser visto em seus olhos. “Desculpa, eu só queria ajudar minha família, meu pai não tem mais trabalho e... e...” ele é cortado pelo andarilho retirando a espada do chão, levantando-o deu-lhe um pequeno saco, disse-lhe algo que não se deu para escutar e o garoto saiu correndo, sumindo novamente, mas agora nas sombras da cidade. Ele apenas virou-se e retornou ao hotel para ter uma refeição, adentrando voltou-se para a feiticeira e disse com um sorriso sarcástico “Sobre a vidraça, coloque na minha conta...”, “Claro...” - foi sua resposta (sabendo que o rubi valia muito mais que 3 noites, refeições e a vidraça.)
Ao fim da noite, a salão estava quase vazio, o andarilho estava terminando sua refeição (e que refeição!) quando Lyza se aproximou da mesa, tirando o avental  e perguntou:
- Posso me sentar aqui um minuto?
- Claro. – respondeu o forasteiro
- Sobre o que aconteceu hoje, desculpe-nos, acho que já foi informado sobre a crise dos estoques de pescados da cidade, aquele era o filho do pescador, jovem feiticeiro ele só...
- Só queria ajudar a família, o jovem tem talento, eu disse para que não se repetisse o feito desta noite, dei lhe um saco de moedas de prata e o mandei para casa.
- Mesmo? Bem... muito legal de sua parte, a propósito eu sou Lyza, ajudo minha vó e sou estudante de magia e você seria...?
- Will, pelo menos é assim como me chamam... Sabe me informar qual é loja de suprimentos mais próxima?
- Do outro lado da rua, mas só abrem amanhã cedo...  er... o jantar estava bom? Você deveria provar o refogado de câncer de safira, talvez em outra oportunidade...
- Estava ótimo, vou me retirar agora, com licença...
Ele apenas se levanta e sobe escada acima.
 Na manhã seguinte ele acorda cedo e já está na loja de suprimentos, onde é surpreendido por um senhor magro de barba branca, atrás dele, o garoto e ele traz algo em suas mãos, é o saco de moedas que dera ao jovem na noite passada,
- Desculpe-me, mas acho que isto lhe pertence...
- Você deve ser o pescador certo?
- Sim, sou Mark, mil perdões pelo meu filho, isso não acontecerá mais, ele é bem intencionado porém não tem noção do que faz...
- Fique com as moedas Mark, creio que este seja o preço pela informação que desejo.
- Informação? Que informação?
O andarilho questionou com um sorriso nos lábios:
- Onde é o lago onde está o tal Troll?

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